(...) A literatura de Bernhard é uma forma de resistência. Ela nada tem a ver com melancolia ou niilismo. O pensamento é fatal quando levado às últimas consequências, ou seja, quando supomos o fim da dúvida, quando exigimos as respostas. O que a literatura propõe – e a frase de Bernhard escancara – é a possibilidade de pensar em permanência, por desdobramentos, contradições e contrassensos, às gargalhadas, sem cair na armadilha do “desespero fatal” da busca pela resposta definitiva. É preciso interromper o pensamento antes de fazermos as perguntas fatais, que buscam o fim: “Se eu tivesse discernimento o tempo todo, ele diz, já teria me matado há muito tempo, mas não me matei justamente porque não tenho discernimento o tempo todo”.
A sombra de Wittgenstein ronda toda a obra de Bernhard. Verdade e mentira são postas à prova sem parar, pela lógica interna da linguagem, por essa frase que avança a contrassensos. A existência é equívoco, diz Oehler. A pergunta levada a cabo é a que pressupõe o fim da dúvida e a morte. A frase espiral e infinita de Thomas Bernhard é, ao contrário, a vida em andamento, no seu pico de energia vital. (...)
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